terça-feira, 19 de outubro de 2010

Introspecção

Neste instante de profundo olhar
Reparo que o que está dentro de mim
Suporta o que acontece fora de mim.
Escuto o tempo e isento-o,
As palavras vagas e cheias de razão,
Passando como rios imensos que sempre correm,
Ou o canto dos pássaros em voo distante.
A doçura das almas que me tocam,
Semeada na aridez de terreno sem dono,
Surge no diálogo mudo com o sol.
Depois, encaminho a minha escrita, de nudez completa,
Para a lua, correctora isenta, que a devolve
Com palavras de luz e de sede
Caídas mortas no tempo de ninguém.



Julia Fernandes, 2009

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Cega Paixão

Quando a cega paixão se debruça
Na janela longa da espera
Permanece aí sem medir o tempo.
Depois, quando a lucidez desperta
E a exaustão adormece
Emerge um turbilhão de incertezas
De momentos de escolhas:
- Viver na gaiola da vida?
- Partir como as andorinhas?
Nesses momentos de dilema
As lágrimas da alma escorrem
De mãos dadas, vazias e caem sem fim
Traçando o caminho da viagem sem regresso!
Nesse instante o tempo reclama a sua labuta
Lavando as marcas da alma queimada.

Júlia Fernandes, 2008

Aos Amigos

A amizade é um botão de rosa amarela
Que desabrocha num dia de Primavera,
 Num gesto, num olhar, numa palavra -
- Um sinal de afecto, quando não se está só.
A amizade é caminhar mais além.
É manter a rosa amarela com pétalas aveludadas,
Luminosas como raios de Sol.
É semear o perfume dela no aconchego e na distância,
No cabo do mundo, quando é preciso.
É sentir a alma, intuir o pensamento de alguém,
No ruído da caminhada abrupta dos dias.
É oferecer a mão da verdade, da esperança,
Da luz e do amor que existe em nós.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A Poesia



A poesia faz a alma voar no horizonte,
Gritar, soltar a voz do peito de sentimentos mansos.
A poesia é a percepção da luz, do entendimento profundo
Do campo dos sonhos, da fantasia e da realidade.
A poesia regista a teia do destino, na noite e no dia,
Liberta-nos, nos dias de sombra, num voo distante.
A poesia é a metamorfose constante da alma,
O equilíbrio para quem quer viver acordado.

            12.01.2009, Júlia Fernandes

Um texto de Ananda Marga

"A Atitude é tudo.
As coisas que te acontecem são menos importantes do que aquilo que acontece dentro de ti.
Há duas forças a trabalhar à tua volta, uma exterior e uma interior.
Temos muito pouco controlo sobre as forças exteriores como furacões, terramotos, desastres, doenças e sofrimentos.
Mas aquilo que realmente importa é a força interior: Como respondemos a esses desastres?
E sobre esta, podemos ter o controlo total.
Ninguém na terra te pode magoar, a menos que aceites a dor na tua própria mente. O problema não está nas outras pessoas, mas na tua reacção a elas.
Não podes controlar sempre as circunstâncias.
Mas podes controlar os teus pensamentos, para encontrares o caminho
."
Acrescento: - da serena liberdade.

Julia Fernandes, 2010

Curriculum Artístico

Os movimentos do pincel  e da caneta , que jorram simultaneamente como lava ardente das minhas entranhas e como água pura e cristalina lavando-me a alma, para depois me libertar num voo distante, são agora a memória de mim ”.    
Júlia Fernandes, 2010

Nasceu em 1961, na freguesia de Paços, concelho de Melgaço, distrito de Viana do Castelo.
É autodidacta na área da pintura e iniciou o seu percurso pictórico no ano de 1996.
Em 2004, frequentou o Curso Livre de Pintura, orientado pelo Professor Carlos Dias, na Cooperativa Árvore – Porto e o Curso de Técnicas de Pintura orientado pela Professora Paula Soares, no Museu Soares dos Reis – Porto.
Reside no Porto, com domicílio necessário em Santarém.

Exposições realizadas

Colectivas

Julho de 1996 – Escola de Bailado – Vila Real
Julho de 1997 – Escola de Bailado – Vila Real
Julho de 1998 – Escola de Bailado – Vila Real
Julho de 1999 – Escola de Bailado – Vila Real
Julho de 2000 – Escola de Bailado – Vila Real
Julho de 2001 – Escola de Bailado – Vila Real
Março de 2005 – Labmed – Av.ª de França – Porto
Julho de 2005 – Casa dos Açores – Porto
Novembro de 2005 – Solar do Alvarinho – Melgaço
Novembro de 2006 – Lugar do Vinho – Porto
Abril de 2007 – Solar do Alvarinho – Melgaço
Março de 2008 – Woodhouse in Arte
Abril de 2008 – Quinzena do Ambiente – Águeda
Maio de 2008 – Fórum Vallis Longus – Valongo
Junho de 2008 – Galeria Arte no Cais – Porto
Novembro de 2008 - Solar do Alvarinho – Melgaço
Dezembro de 2009 – Casa do Brasil - Santarém


Individuais
Fevereiro de 2001 – Solar do Alvarinho – Melgaço
Fevereiro de 2005 – Café com Livros – Valença
Abril de 2005 – Solar do Alvarinho – Melgaço
Dezembro de 2005 – Café com Livros – Valença
Janeiro de 2006 – Câmara Municipal – Peso da Régua
Abril de 2006 – Solar do Alvarinho – Melgaço
Junho de 2006 – Galia Lucília Guimarães - Guimarães
Outubro de 2006 – IPJ de Vila Real
Dezembro de 2006 – IPJ de Viana do Castelo
Maio de 2007 - Galeria Lucília Guimarães - Guimarães
Junho de 2007 – Câmara Municipal de Ponte da Barca
Julho de 2007 – Posto de Turismo de Esposende
Setembro de 2007 – Casa da Cultura de Miranda do Douro
Novembro de 2007 – Solar do Alvarinho – Melgaço
Junho de 2008 – Biblioteca Municipal de Barcelos
 Setembro de 2008 – Biblioteca Municipal de Moimenta
Maio de 2009 – Solar do Alvarinho – Melgaço







Outras Participações
2004 – Participou na elaboração e lançamento do livro 2004, Gatafunhos, Edição Particular, com desenho e poesia

2005 – Participou na ilustração de uma colecção de postais de Natal

2008 - Lançou o livro “Passeios Interiores”, que integra poesia e pintura da artista.


Representação
Encontra-se representada em colecções privadas, em Portugal, Espanha, França e Estados Unidos da América e em instituições públicas: Câmaras Municipais, Governo Civil de Vila Real, Institutos Públicos e Juntas de Turismo.
Integra o espólio de um coleccionador de arte nacional.

Sentidos

Vivo entre o estar, o pensar, dormir e acordar, onde os teus poemas se prolongam e se desenrolam perdidos no tempo, como uma passagem da vida para a morte, onde a dualidade do real e do imaginário acontece!Tento fugir em frente, para compreender aquilo que está para além da minha compreensão, pousando o lugar do pensamento no Tejo que me escuta, na Lezíria que me beija e no vento que me acaricia. Nessa relação íntima, as lágrimas soltam-se quando a noite chega aos meus olhos! Em cada dia, em cada instante desses mesmos dias a Lezíria surpreende-me transformando-se num centro de emoções e afectos onde regresso ao umbigo do Universo e do meu universo para me encontrar. Aí a noite é calma e doce, interrompida pelo cantar dos grilos, dos pássaros e pelo coaxar dos sapos. A lua e as estrelas iluminam-na e nela solto os sonhos e as vontades, que, quando regressam, já não vêem inteiros, porque algo de mim fica lá para o dia seguinte. Todos os dias revisito esses lugares, vestidos de roupagem de festa ou trabalho, onde cenários magníficos se constroem e onde todas as histórias podem ser encenadas, porque o desejo de me ultrapassar é infinito!
De narrativas hipotéticas urge um espaço construtivo de fios subtis de luz e certeza, que me prendem na minha procura. A minha voz solta-se e recomeço a sorrir, a revisitar a afirmação de que não podemos conhecer senão aquilo que está ao nosso alcance e nesta ambiguidade dos sentidos a abstracção é a fuga da realidade.

Júlia Fernandes, 2010

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Poemas no Intervalo



Todos vamos mudando no tempo,
Como se de estações do ano se tratasse.
Aprendemos a revestir-nos de outras folhagens,
Para que o nosso interior não se desgaste e adormeça.
Aprendemos a aliviar com um suspiro a paixão,
Com uma lágrima a apagar a dor,
A escutar a música, entre o real e o imaginário
Com desejo e apego, tantas vezes.
Calamos a voz
Às palavras que fogem da boca,
Deixando-as sublimadas em silêncios persistentes,
Aos gritos de desejo que não ecoam,
Só porque chegou a Primavera,
Com o perfume das flores no campo
E a brisa fresca do vento,
Acariciando-nos a face.




                      Júlia Fernandes, 2009

Palavras perdidas



Nos dias cinzentos, quando os sentidos subsistem,
Na dualidade da morte e da vida,
As palavras soltam-se da boca
Á primeira ave que passa
Procurando o sossego submergido
Pela onda forte da vida.
Naufragada a alma no lodo
Da maré vaza, melancólica e despida,
Pelas palavras que nunca mais escutarei.

2010, Júlia Fernandes